Ho! Ho! Ho!
Viva! O Natal está chegando e com ele o tão esperado final de ano que a mamãe e o papai tanto esperaram esse ano, que foi cheio de grandes acontecimentos, conquistas e muitas vitórias. Fizemos grandes amigos, no mundo inteiro (agora a mamãe sabe o porquê da expressão de criar o filho para o mundo), os velhos amigos viraram grandes companheiros, a nossa família um colo gigantesco que passou o ano inteiro mimando a gente, e os "desconhecidos" nós estamos doidos para conhecer.
No começo desse ano sentimos tanto medo, um aperto no coração, mas nunca perdemos a esperança de que tudo iria dar certo... O medo era apenas pelo desconhecido, e de como a mamãe e o papai passariam por tudo isso, mas eu me esforcei, dei muitos beijinhos neles e nunca os deixei sozinhos, mesmo quando estava muito dodói eu sempre dava um jeitinho de dar um sorrisinho para ela... Ela fazia uma cara tão bonitinha que valia o esforço! O papai então? Parecia um bobo! Sempre me enchendo de beijos, apertos, sempre querendo atenção com brincadeiras incríveis. Deu um trabalhão mas acho que valeu a pena!

Durante todo ano, tivemos que nos afastar de muitos amigos, principalmente os meus, não pude receber a visita deles... Teve uma vez que os meus priminhos foram me ver, mas foi tão rapidinho, só da porta de casa, a saudade só aumentou, eu queria tanto apertar eles. Ainda não posso brincar com eles, mas como eu estou bem mocinho e estão todos vindo passar o Natal com a gente, a mamãe está arrumando algum passeio em que possamos estar juntos, mesmo que sem nos abraçar ou trocar brinquedos, só nos vendo, já vai valer a pena, vamos brincar muito ainda e quando eu ficar bom de vez... Me aguardem! vou apertar muito todo mundo!
Os meus tios foram fantásticos, sempre presentes, a mamãe sempre arrumava uma desculpinha (no caso eu) para chamar a galera para cá. Eu falava para ela: mamãe eu já estou bom, já passou o susto! Que nada ela sempre queria mais atenção, os meus tios Titudos, tia Rô, Tais, Telma, Márcia, Donato, meus avós todos vieram para cá, a vovó Neuza mudou com a gente, o vovô Donato, muito baderneiro (teve até um piripaque para vir para cá!) e o vovô Vinha também foi usado para dar colo para os meus carentes pais! Mas no fundo nós sabemos que eles são legais né! Então estamos agora em rítmo de festa, com a casa enfeitada e comigo querendo escapar pela sacada par dar uma olhada no visual da cidade, vamos aproveitar para deixar a casa bem linda, cheia de luz e muita alegria e dar uma folguinha para o Papai Noel, manda falar para ele, que não precisa vir aqui em casa esse ano não, está liberado, já ganhamos tudo o que queríamos! Estou ótimo e curado. O que mais poderíamos querer?

Agora vamos aos fatos:
Eu, muuuuuito faceiro como podem ver, estou só que melhoro, agora com todos os medicamentos sendo tomados em casa, vou ao ambulatório só para desentupir (heparinizar) o catéter, bem rapidinho, assim fico com o dia todo para brincar. Os remédios da pressão agora são só dois, um foi eliminado no último paredão com a tia Doutora Carmem. Como vocês podem ver estou mesmo um espetáculo!
No hospital as coisas continuam um cadico complicadas... No último final de semana, acabamos nos despedindo de mais um amiguinho... O Juan, que tinha a mesma doença que eu, porém, infelizmente, não a mesma sorte. Todos nós tínhamos muito orgulho de conhecê-lo, um grande concorrente é verdade, pois era tão charmoso quanto eu, o mesmo sorrisinho maroto, sempre lutando contra muitas complicações da doença e sempre bem humorado, logo que chegou cativou a todos, fez o transplante sem quimioterapia, teve até a pega da medula e tudo mais... Infelizmente não pode ficar muito tempo com a gente... Mas o Papai do Céu, que sempre sabe o que faz, deixou ele dormindo um tempão, para que nos acostumássemos com a sua ausência, ficando só as boas lembranças dos seus lindos sorrisos enquanto desenhava com as crianças no corredor do andar... Acho que agora deve estar lá junto com tantos outros amigos nossos, escrevendo um monte de cartinhas para ler enquanto dormimos.
A minha médica explicou que a doença que eu tinha (sim isso já é um passado!), é muito complicada, das crianças transplantadas no nosso país com ela, somente eu tive sucesso (acho que foram 3 ou 4). Um dos motivos para um número tão ruim é a falta de vagas para o tratamento, um diagnóstico bem cedinho e fazer o transplante rápido é a grande chance que nós pequeninos temos, mas acabamos perdidos no meio de tanta conversa mole, papelada inútil e dindin aplicado em lugar que não deve.

Acho melhor ficar só com os bons pensamentos do Natal, lembrando dos meus grandes amigos desse ano que mesmo muito longe, estarão sempre juntinho do meu coração.
Nessa noite de Natal quando estivermos todos unidos olhando para o céu cheio de estrelinhas vou mandar todos os meus bons pensamentos para os anjinhos que estão brilhando lá em cima por nós...
Beijinhos saudosos.